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Sete anos do rompimento da barragem de Fundão: como estão os atingidos de Paracatu de Baixo hoje?

O maior desastre socioambiental do Brasil ainda mantém pessoas desabrigadas e sem lar.

Por: Laura Fernandes, Mayara Fernanda e Phablo Vieira

Introdução

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A tragédia socioambiental, causada pelo rompimento da barragem de Fundão, da empresa Samarco (cujo capital pertence às mineradoras Vale e BHP Billiton), em Mariana (MG), em 5 de novembro de 2015, não se limitou apenas aos danos ambientais provocados pelo derramamento de rejeitos de minérios, mas impactou profundamente a vida de milhões de pessoas que vivem nas áreas atingidas. 

Mais de 40 milhões de metros cúbicos de lama atingiram, primeiro, 13 localidades da zona rural de Mariana (Bento Rodrigues, Paracatu de Baixo, Águas Claras, Bicas, Borba, Camargos, Campinas, Monsenhor Horta, Mata do Chaves, Paracatu de Cima, Pedras, Ponte do Gama e Santa Rita Durão) e seguiram, por 500 km, descendo o Rio Doce até alcançar o oceano Atlântico, no litoral do Espírito Santo. Além disso, o desastre matou 19 pessoas e também destruiu 240,88 hectares de Mata Atlântica.

Apesar de Bento Rodrigues, distrito localizado a cerca de 25 km de Mariana, ser o local mais lembrado quando se fala do desastre socioambiental da Samarco, por ter sido praticamente destruído, outra localidade, Paracatu de Baixo, distante 35 km da sede do município, também foi profundamente impactada

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O morador de Paracatu de Baixo, Geraldo de Paula, afirmou que sua casa está com as paredes rachadas devido aos caminhões que circulam com frequência nas proximidades de sua residência. Ele ainda relatou que, mesmo tendo recebido uma indenização em dinheiro, não foi o suficiente, pois sua casa continua prejudicada, com rachaduras em sua estrutura.

Apesar da possibilidade de seguir para o reassentamento Lucila, Geraldo decidiu permanecer em sua casa em Paracatu. Ele afirma que essa escolha é digna e que não abrirá mão de suas terras de qualquer maneira. Além disso, assim como os demais, ele cita a falta de uma vizinhança. Com 69 anos, Geraldo ressalta a importância de continuar ali, citando a plantação para consumo próprio em seu quintal e o que a área atingida representa para ele. 

Ele destacou que a comunidade local era muito unida antes do desastre ambiental, e que, depois disso, essa união foi desfeita. “Mudou foi tudo aqui, todo mundo virou estranho para todo mundo, antes eram unidos, tinham festas muito animadas, agora acabou tudo”, contou. 

Geraldo de Paula
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Paracatu de Baixo deixou de ser o mesmo há muito tempo; os sete anos que se passaram ainda são marcados pelo tom lamacento que restou em algumas construções que ainda permanecem de pé. Além disso, relembrar o desastre por meio de uma sirene, que toca mensalmente, todo dia 10, é um método escolhido para tentar minimizar novas ocorrências dessa natureza, mas, ao mesmo tempo, é algo que transporta as pessoas atingidas de volta a 2015.

Geraldo de Paula
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 A QUEBRA DE UNIÃO NA COMUNIDADE É APENAS UM DOS MUITOS IMPACTOS SOCIAIS CAUSADOS. AS CONSEQUÊNCIAS DA TRAGÉDIA CONTINUAM SENDO SENTIDAS PELOS MORADORES AFETADOS, E MUITOS AINDA LUTAM POR UMA INDENIZAÇÃO JUSTA.

PARACATU DE BAIXO HOJE

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Maria Salete, 62 anos, morou a vida inteira em Paracatu e afirmou que não vai se mudar para o reassentamento Lucila. Salete disse que não quer ir embora: “Tenho horta, tenho criação, isso tudo me prende aqui”. 

Segundo a moradora, a principal razão para não aceitar a mudança é a questão da água.

Maria Salete
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Segundo os moradores, no reassentamento eles teriam que pagar pelo fornecimento de água, o que seria inviável para Maria Salete, que mantém uma horta e cria animais para consumo próprio. Além disso, Maria Salete tem um forte vínculo emocional com seu lar, pois foi onde nasceu, viveu a maior parte da vida e criou seus filhos. 

Ela lamenta a perda de vizinhos e das atividades sociais que antes existiam na região. A quebra de união na comunidade é apenas um dos muitos impactos sociais causados pelo desastre socioambiental. As consequências da tragédia continuam sendo sentidas pelos moradores afetados, e muitos ainda lutam por seus direitos e por uma indenização justa.

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Marino D'Angelo, 54 anos, morava no distrito de Paracatu de Cima, e também não possuía interesse em seguir para o reassentamento Lucila. Atualmente, D’Angelo está deslocado no distrito de Águas Claras e o motivo de não querer se mudar é o desejo de manter a individualidade da família na zona rural onde se encontram. Marino considera que o sentimento que resta é de descaso e impunidade, não só com ele, mas com todos os atingidos. Uma série de falhas das responsáveis pelo desastre que trazem como consequência o sentimento de  dificuldade em  recuperar suas vidas de volta. 

PARACATU NOVO, O REASSENTAMENTO LUCILA

Segundo a Fundação Renova, o reassentamento Lucila, onde está sendo construído o novo Paracatu, tem aproximadamente 390 hectares de terreno. Nesse novo local, 72 famílias serão contempladas, sendo que 41 residências já foram concluídas e estão prontas para serem entregues. Outros 18 imóveis ainda estão em construção. Segundo a Renova, este número é variável, haja vista que algumas famílias ainda não decidiram se vão ou não se mudar para lá. 

Localizado em uma área a aproximadamente 40 km de Mariana, de acordo com a Renova o reassentamento conta com um sistema de tratamento de água e esgoto, além de apresentar estruturas para a instalação de serviços de eletricidade pública, telefonia e transporte. 

Segundo a Renova, em resposta ao desastre que causou a morte de 19 pessoas, o processo de reassentamento envolveu diversas etapas, incluindo a consulta às famílias atingidas para definir suas necessidades e preferências, a construção das casas, como uma medida de reparação.

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Luzia Queiroz, atingida e membro da comissão ativa do distrito de Paracatu de baixo, atualmente está deslocada em Mariana. Ela decidiu que vai se mudar para o reassentamento construído pela Fundação Renova, e conta que tomou a decisão por se ver sem escolha.

Luzia acompanha as obras todas as terças-feiras e atestou que é possível notar algumas irregularidades, como medidas de espaços bem menores das combinadas judicialmente, além de paredes tortas e obra extremamente lenta.

Também afirma que as novas residências não serão muito vantajosas para os antigos moradores de Paracatu, já que alguns deles possuem animais rurais que necessitam de cuidados específicos. A água do reassentamento é encanada e paga, o que é desvantajoso para esses agropecuários que necessitam limpar currais, dar água aos animais, entre outras questões.

Pascal, que não quis informar seu sobrenome, também é um morador que foi impactado pelo rompimento da barragem. Ele relata que nunca havia visto uma cena daquela. Quando a lama chegou, nada continuou como antes, o material contaminado da barragem trouxe o caos e a cena de destruição. O morador recebeu a indenização e agora se prepara para se mudar para o reassentamento Lucila. 

Segundo ele, sua nova casa está quase pronta, mas ainda não há informações precisas sobre quando poderá se mudar. No entanto, disse que tem uma preocupação em relação à nova casa: ela será menor do que seu terreno em Paracatu. Diante disso, Pascal está considerando entrar com uma ação judicial para garantir que seja justamente compensado. 

O exemplo de Pascal ilustra a complexidade do processo de reassentamento dos moradores atingidos pelo rompimento da barragem de Fundão. Além das questões emocionais envolvidas, há também preocupações práticas e financeiras. Muitos moradores, como Pascal, apontam possíveis incertezas quando o assunto é a mudança futura para o reassentamento e as dificuldades que eles já apontam para as adaptações ao novo local, especialmente quando a nova moradia não atende às suas expectativas.

Luzia Queiroz
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O QUE RESTOU

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Em Paracatu de Baixo, as terras que foram tomadas pela lama vão, aos poucos, ganhando vida novamente com o verde da flora local. No entanto, ainda é perceptível a marca da tragédia em algumas construções que resistiram ao tempo. Pedaços de casas e construções compostas por marcas de lama e rastros de um vilarejo que um dia foi lar de vizinhos, criações e memórias. A desolação é uma ferida aberta que, apesar do tempo decorrido, continua na lembrança. 

Por exemplo, o Rio Gualaxo, que banha a comunidade, era muito mais que um curso d'água. Era o ponto principal de lazer dos moradores, que iam à beira do manancial, nos finais de semana, acampar e se banhar. Após o rompimento, o espaço deixou de ser apropriado para banho.

Nada disso pôde, nem poderá ser recuperado, principalmente os laços criados culturalmente.

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